Não prometo nada #41: destino terrível, agora o mundo inteiro é incel
Os horrores não estão tão além da nossa compreensão assim
Pessoal,
Essa edição vai falar sobre filmes. No plural. Por coincidência, essa newsletter estabeleceu uma união sinistra com a Filmicca, uma plataforma de streaming brasileira (#foragringos) independente com um acervo incrível de filmes nacionais e internacionais.
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Inclusive, aproveitando que estou bastante focada em assuntos femininos, minha indicação de filme essa semana é a filme checoslovaco “As Pequenas Margaridas” de Věra Chytilová. Um filme tão subversivo contra os estereótipos femininos a ponto de ter sido banido pelos comunistas na época.
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Recentemente decidi rever o clássico “A Morte Lhe Cai Bem", uma comédia de 1992 dirigida por Robert Zemeckis, e estrelada por Meryl Streep, Goldie Hawn, Bruce Willis e Isabella Rossellini. O filme foi um flop na época, apesar de ter sido pioneiro em efeitos digitais, mas virou um cult instantâneo na comunidade LGBTQ+.
Assim como todas as obras audiovisuais lançadas há mais de 20 anos atrás, o filme foi revisitada recentemente por uma artista pop. No caso do fime, ele foi referenciado no clipe “Taste" de Sabrina Carpenter.
“A Morte Lhe Cai Bem” conta a história de duas amigas-inimigas, Madeline (Streep) e Helen (Hawn), disputando o amor de um homem bem mais ou menos, o médico patético Ernest Menville (Willis).
O triângulo amoroso é apenas um pretexto para o filme brincar com algo muito maior: a obsessão pela juventude de Hollywood e a impossibilidade das mulheres envelhecerem — pelo menos em público ou perante aos maridos.
Na disputa por Menville, Madeline e Helen recorrem a uma misteriosa mulher (Rossellini) que oferece uma poção mágica para conquistar a vida eterna. Porém, as duas protagonistas descobrem juntas que nem a juventude eterna é perfeita.
Ao meu ver, a poção misteriosa tomada pelas protagonistas para recuperar a juventude é outro jeito de dizer que a única forma de impedir o envelhecimento é morrendo. Até mesmo uma solução mágica como essa tem seu preço e, no caso, o preço é viver sem correr riscos, como um vaso precioso trancado em um armário de vidro servindo apenas para ser observado.
Mas o perverso mesmo do filme é que ele dá uma lição de moral meio torta. Com o vidrinho quase na boca, Menville questiona se a vida eterna é mesmo algo tão legal assim e se recusa de tomar a poção mágica e foge das duas mulheres.
Nos minutinhos finais, Madeleine e Helen aparecem no velório de Menville, décadas depois, ouvindo um padre listar todos os feitos do defunto depois de ter se separado delas. Em resumo: morreu velho e feliz, deixando um legado para trás.
Enquanto isso, Madeleine e Helen estão, literalmente, derretendo. Por não terem cuidado muito bem de si mesmas foram condenadas à vida eterna com corpos frágeis e despedaçados.
Em tese, a lição do filme é simples: devemos nos permitir a envelhecer. Todavia, o que ele realmente deixou passar é: sim, devemos nos permitir a envelhecer, mas quem realmente tem esse direito é o homem. Eles, sim, podem se dar o luxo de não se preocupar com a aparência para viverem livres como gostariam.
Já as mulheres, como acontece no filme, resta apenas arcar com a solidão do envelhecimento e as consequências da obsessão pela juventude — obsessão a qual só existe em primeiro lugar por causa da obsessão dos homens pela juventude, mas uma juventude terceirizada nas mulheres.
De novo, eu adoro esse filme, mas pelo aspecto camp dele. Quem conseguiu falar de envelhecimento de uma maneira forma muito mais eficiente (e assustadora) foi Billy Wilder em “Crepúsculo dos Deuses”, onde Norma Desmond (Gloria Swanson) vive trancada na própria mansão e acredita piamente que ainda é famosa como já foi na era dos filmes mudos.
Se preparando para um evento imaginário, Desmond se submete a diversos procedimentos bizarros para, de alguma forma, resgatar a juventude. A verdade é que ninguém se importa, porque ela já está morta para o mundo. Exceto para si própria, confinada em uma mansão onde vive um universo paralelo.
No entanto, a prisão de Desmond não é uma prisão que a própria se trancou voluntariamente como o “A Morthe Lhe Cai Bem” faz parecer, mas uma sentença de invisibilidade proferida pela indústria de cinema de Hollywood na qual rapidamente Desmond foi esquecida para dar lugar à próxima starlet.
São dois filmes muito diferentes, claro, mas revisitei ambos para me preparar para assistir “A Substância” dirigida por Coralie Fargeat e estrelada por Demi Moore, Margaret Qualley e Dennis Quaid.